sábado, 28 de janeiro de 2012

Trabalhar em casa tem vantagens

Mais uma tarde tranquila na arejada e aconchegante residência do designer publicitário Adelmo Barreira. Pela janela, é possível observar a garoa fina que cai por volta das 17h de quinta-feira. Na cozinha, a mistura do cheiro do pão quente com o vapor que sobe da cafeteira é um convite a, logo após a boquinha, se esparramar no sofá e relaxar com um filme que somente as sessões vespertinas da TV trazem.

Mas não é nada disso. O pão com manteiga, molhado na xícara de café com leite, representa apenas uma etapa de um dia qualquer de expediente. Não fosse o fato do designer estar de bermuda e camiseta, qualquer um diria que Barreira estaria de férias ou seria algum abastado sem trabalho. “Gente que não sabe até já desconfiou ao me ver, em plena tarde durante a semana, de bermuda e chinelo em frente de casa”, descontrai.

Adelmo é um dos bauruenses que aderiram à filosofia de trabalho em que o profissional não abre mão da produtividade - pelo contrário, aumenta - sem estar, necessariamente, atrelado a uma mesa de escritório, cercado por telefones ou colegas barulhentos.

Também conhecido como home office (do inglês, “escritório caseiro”), o modo de trabalho, segundo ele, é o ideal por causa da tranquilidade e concentração propiciados. “Os dois maiores diferenciais do trabalho em casa são o sossego e a oportunidade de estar num ambiente montado de acordo com sua característica. Por mais que você tente personalizar um escritório, estará sempre num local com a cara da empresa”, compara.

No escritório caseiro, onde conta com o apoio de uma pequena equipe, Adelmo, que nas horas vagas fabrica violas caipiras, também em casa, diz encontrar a calmaria necessária que o auxilia no processo criativo. Contudo, essa liberdade também requer esforço, ressalva. Disciplina, observa, é essencial também - e até mais - para quem opta por esse tipo de ambiente de trabalho.

Portanto, se alguém pensa que trabalhar em casa é sinônimo de folga ou interrupções constantes seja para um assalto á geladeira ou conferir aquela partida imperdível do campeonato europeu que vai passar ao vivo na TV no meio da tarde, é melhor rever os conceitos, aconselha o designer. “Disciplina é um item obrigatório. O profissionalismo sempre fala mais alto, aonde quer que esteja”, aconselha.

O afinco no trabalho em casa rendeu ao designer importantes encomendas de grandes empresas - entre elas Banco do Brasil, Itaú, Volks, Pepsi, Coca-Cola, McDonald’s, Brahma, Skol, Embratel ou Carrefour, com direito a ilustrações premiadas inclusive com o cobiçado Leão em Cannes, conforme já detalhado pelo próprio JC na “Entrevista da Semana”, publicada em outubro do ano passado.

Segundo ele, que é contratado por agências de publicidade geralmente da capital, o fato de não encarar trânsito para trabalhar, além de poder se vestir de forma casual ajudam na criação, mas que depende muito da disciplina, reitera. “Tenho horário para trabalhar e sigo uma rotina de segunda a sexta-feira”, detalha o ilustrador publicitário que, religiosamente, por volta das 17h30, vai à cozinha para o tradicional café com leite e pão com manteiga. Logo depois retorna ao batente.

Nem sempre foi assim, recorda. Durante dez anos, em época em que as atividades tinham de ser unicamente presenciais, ele encarou a rotina “casa - trânsito - escritório” em São Paulo. Mas há duas décadas o processo tem sido dividido entre a sala de criação dentro de casa, café com leite e esporádicas tomadas de ar puro em frente à residência, num condomínio fechado de Bauru. “Tem gente que ainda não entende e pode até desconfiar: ‘esse cara aí de short e chinelo no meio do dia, deve ter alguma coisa errada’”, diverte-se.

Essa liberdade, contudo, requer outro tipo de preocupação, acentua. Diferentemente de um profissional nos moldes ortodoxos, devidamente registrado de acordo com a Consolidação das Leis do Trabalho, a CLT, os autônomos não dispõem do porto seguro das férias remuneradas, 13º salário, fundo de garantia, entre outras “regalias” asseguradas por lei a quem bate ponto no escritório.

Por isso, ele atenta para a importância de se aplicar parte dos vencimentos em fundos de previdência privada ou outras tipos de investimento. “Isso depende muito e é relativo conforme as aspirações de cada um. Mas eu procuro diversificar. Concentrar-se apenas em uma forma de investimento é arriscado”, considera.


Gastronomia VIP

Quem também já admite se preocupar em buscar um fundo privado de previdência é o jovem Filipe Tiritan.

Há aproximadamente três meses, ele embarcou em uma nova etapa profissional. Após trabalhar durante anos tanto em restaurante quanto em outras atividades, a mais recente era a de consultor de vendas, ele optou pela “carreira solo”.

Pilotando o próprio fogão, Filipe se orgulha de ser, segundo ele, o primeiro “personal Chef” de Bauru.

O serviço, que enfoca clientes que preferem desfrutar de um jantar mais intimista e personalizado, sem abrir mão do requinte, tanto pode ser prestado na casa de Tiritan, onde ele montou um espaço exclusivo para as refeições, como na moradia do contratante. “Desde casais que querem um momento privativo até grupos de trabalho. Todos são recebidos no espaço caseiro que montei”, incentiva.

Com variações de cardápio, das opções de entrada, prato principal e sobremesa assinaladas pelo cliente, ele conta ter desenvolvido uma estrutura não apenas gastronômica. Se o freguês quer jantar com música, por exemplo, ele garante o entretenimento, por meio de parceria com profissional do ramo artístico.

A decisão em trabalhar por conta própria, reforça ele, foi impulsionada também pela disciplina que o personal garante manter para o sucesso do novo negócio. “É algo constante. Não se pode fazer nada simplesmente por fazer. É o seu nome que está em jogo”, relaciona. “Acordo cedo e sempre vou atrás dos melhores produtos para preparar meus pratos. Estar bem vestido sempre é outra obrigação, estamos divulgando algo inédito na cidade”, anuncia.



____________________


Consultores anunciam nova tendência


O desenvolvimento de novas e rápidas ferramentas de comunicação, principalmente pela Internet, apesar de ainda não ser responsável por nenhuma “diáspora” corporativa, já demanda considerável número de profissionais que trocam os escritórios pelo conforto do lar.
Adirson de Oliveira Beber Júnior é diretor de uma empresa de assessoria empresarial com atuação em Bauru. Para ele, a tendência do trabalho em casa, ou nem tanto ligado ao escritório, é algo que veio para ficar. “Existem indicadores de que esse modo de atuação fortalece o vínculo do funcionário com a empresa”, observa.

Isso mesmo, conforme o especialista, além dos autônomos, tem muita gente com carteira assinada que pode trabalhar em casa. “Essa flexibilidade segue a política das empresas familiarmente responsáveis”, ilustra a psicóloga do trabalho Núria Priscila Valentini Borro, coordenadora dos consultores da mesma empresa.

O termo familiarmente responsável, observam os especialistas, é difundido no País pela empresa e é uma homologação criada na Espanha para designar corporações que flexibilizam horários e métodos de trabalho para deixar funcionários maior tempo junto a familiares.

Em Bauru já tem gente empregada no regime CLT com a possibilidade de cumprir a jornada no aconchego do lar. A contadora Fernanda Rodrigues Graciano, de 25 anos. Funcionária da mesma empresa há pouco mais de quatro anos, ela executa a mesma função em casa desde o ano passado. “Com certeza mudou para melhor”, aprova. “É mais tranquilo, com menos barulho e maior conforto, assim como concentração”, diferencia.

0 comentários:

Postar um comentário

Deixe seu comentario, seja uma critica, uma sugestão para podermos estar melhorando o blog.